Génese

Cerca de metade da comida produzida no mundo cada ano vai para o lixo. Segundo a FAO, o actual desperdício alimentar nos países industrializados ascende a 1,3 mil milhões de toneladas por ano, suficientes para alimentar as cerca de 925 milhões de pessoas que todos os dias passam fome. Este desperdício tem consequências não apenas éticas mas também ambientais, já que envolve o gasto desnecessário dos recursos usados na sua produção (como terrenos, energia e água) e a emissão de dióxido de carbono e metano resultante da decomposição dos alimentos que não são consumidos. Só em Portugal são desperdiçadas mais de 1,8 milhões de toneladas de alimentos por ano, de acordo com as conclusões do INE apresentadas em Junho de 2022.

Os motivos para este desperdício são vários e ocorrem ao longo de toda a cadeia agroalimentar. Modelos de produção intensivos, condições inadequadas de armazenamento e transporte, adopção de prazos de validade demasiado apertados e promoções que encorajam os consumidores a comprar em excesso, são algumas das causas que contribuem para o enorme desperdício actual. Outro problema é a preferência dos canais habituais de distribuição por frutas e legumes “perfeitos” em termos de formato, cor e calibre que acaba por restringir o consumo aos alimentos que respeitam determinadas normas estéticas. Esta exigência resulta num desperdício de cerca de 30% do que é produzido pelos agricultores na Europa. Ainda que uma possível opção para este tipo de produtos seja a Indústria (sumos, compotas, molhos), esta não representa uma solução economicamente viável para o agricultor uma vez que o preço pago pelos produtos é tão baixo que às vezes nem cobre o custo de produção.

A cooperativa Fruta Feia surge da necessidade de inverter tais tendências de normalização de frutas e legumes que nada têm a ver com questões de segurança e de qualidade alimentar. Este projecto visa combater uma ineficiência de mercado, criando um mercado alternativo para a fruta e hortaliças “feias” que consiga alterar padrões de consumo. Um mercado que gere valor para os agricultores e consumidores e combata tanto o desperdício alimentar como o gasto desnecessário dos recursos utilizados na sua produção.

Objectivo

O principal objectivo da Fruta Feia é reduzir as toneladas de alimentos de qualidade que são devolvidos à terra todos os anos pelos agricultores e com isso evitar também o gasto desnecessário dos recursos usados na sua produção, como a água, as terras cultiváveis, a energia e o tempo de trabalho. Ao alterar padrões de consumo, este projecto pretende que no futuro sejam comercializados de forma igual todos os produtos hortofrutícolas com qualidade, independentemente do tamanho, cor e formato.

Como impactos paralelos estão a consciencialização da população para a problemática do desperdício alimentar e para o facto de que alimentos feios não são lixo, e também a possibilidade de consumir produtos da época e da região a um preço mais baixo.

Implementação

A primeira delegação da cooperativa Fruta Feia arrancou em Novembro de 2013 no bairro do Intendente em Lisboa, e desde aí o projecto tem vindo a dar frutos em diferentes concelhos, nomeadamente Lisboa, Porto, Almada, Amadora, Cascais, Gaia e Matosinhos.

O sucesso da replicação da Fruta Feia é essencial para garantir o seu impacto e é, portanto, nosso objectivo vir a replicar este modelo de consumo alternativo noutros pontos do país através da abertura de delegações locais.