Perfil do produtor
A Lucília, que se auto denomina e é conhecida na região de Mafra como a Cila dos limões, trabalha connosco desde 2014.
Inicialmente, o seu pai era moleiro e a Lucília seguiu este caminho. Para enfrentarem as dificuldades da vida, os seus pais resolveram ser comerciantes, faziam pão e bolo com a própria farinha para vender nos mercados. Quanto à Lucília, herdou uma parcela do pai e resolveu plantar alguns limoeiros. Foi adquirindo outras parcelas e, hoje em dia, é a sua vida há quase 30 anos. Como ela conta: “São muitos anos a virar limões!”. São 9 hectares, 4 empregados e cerca de 200 toneladas produzidas por ano. O limão dá o ano todo, são 3 florações por ano e é preciso podar regularmente para que a árvore dê a melhor fruta. Na parcela perto da sua casa, desde uma certa altura, vê-se o mar ao longe e sente-se o ar que vem acariciar os limoeiros plantados nas ondas formadas pelo terreno colinoso.
Produz também, em menores quantidades, ameixa, laranja, tângeras, tangerinas e chuchu. Diz que as condições climáticas e o solo da região são muito propícios à agricultura e, particularmente, ao limão. De olhos fechados sente-se a presença do limão de Mafra só pelo cheiro, este distingue-se pelo seu aroma, pelo seu sumo e pela sua casca rugosa e grossa que o torna mais resistente. Em contrapartida, são essas características estéticas que o fazem sofrer de discriminação devida à aparência. A taxa de desperdício da Lucília atingia 25% da produção, ou seja, 50 toneladas por ano. Este número tem baixado desde que trabalha com a Fruta Feia, nas semanas em que há limão na cesta, vende cerca de 180 Kg de limão por cada delegação. “Quem faz o mercado são as pessoas e se as pessoas se habituarem a comer este tipo de limão, não teremos este drama nos próximos anos. O limão feio é só a figura, é tocado, é roçado, mas a qualidade é igual!”, indigna-se a Lucília.
Faz parte da cooperativa agrícola Frutoeste há 23 anos onde há apenas 3 outras mulheres, e através da qual escoa a maior parte da sua produção. Do alto do seu trator, que considera como a sua segunda pele, a Lucília, enquanto mulher e empreendedora, conta o desdém que teve que enfrentar só por ser mulher e o quanto teve que provar para ser respeitada. A Fruta Feia é também um projecto de mulheres, e isto provavelmente participou na relação próxima que desenvolvemos: a Lucília adora-nos e nós adoramo-la!
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