Nos últimos anos foram vários os nossos pontos de entrega que fecharam portas para dar lugar à especulação imobiliária, espaços de colectividades que se transformaram em hotéis ou habitação de luxo. No último ano repetem-se as histórias de associados que se vêem obrigados a desistir da Fruta Feia porque não conseguem pagar uma casa na cidade. A Fruta Feia traz frutas e hortícolas do campo até aos consumidores que vivem na cidade, mas quem viverá na cidade?!
E não é só isto, é o modo como se fazem as coisas. A Fruta Feia assegura este consumo na cidade sem fins lucrativos - a receita dos cabazes é para cobrir custos. As medidas anunciadas para a habitação, em lugar de protegerem quem habita a cidade, limitando rendas e prestações, bloqueando os despejos, não fomentando a procura externa endinheirada (através de vistos para nómadas digitais, do estatuto de residente não habitual, de vistos gold agora em rebranding, de isenções fiscais para grandes fundos de investimento, etc), continuam a priorizar o lucro dos bancos e de grandes grupos económicos. Na alimentação, mais do mesmo: uma descida de 6% de IVA nalguns bens essenciais, em que a inflacção vai dos 20% aos 65%, é mais uma manobra para não mexer no lucro dos supermercados em detrimento de proteger a alimentação das pessoas. Sendo nós a prova de que as coisas se podem fazer duma maneira mais justa, não podemos deixar de repudiar este modelo social em que o lucro se faz à custa da vida das pessoas, em dois bens que lhe são essenciais - habitação e alimentação. Porque nos desmarcamos deste modelo de maximização do lucro duns poucos à custa da miséria de muitos, e em solidariedade com todas as colectividades e associados que estão a perder as suas casas e espaço na cidade, amanhã estamos na luta por uma CASA PARA VIVER!